- nádiamaria
Infância

(Wendy, 2015)
A escrita da memória, a memória do poeta, teria que ser sempre a escrita de uma infância — imaginária, sim, porém enraizada na experiência vivida. As três idades do homem seriam três infâncias. A infância é seu manancial permanente de inspiração e trabalho.
O primeiro olhar, o primeiro gesto, o primeiro tocar, o cheiro, enfim. Todo esse primeiro conhecimento é o mais importante do ser humano. Pois é o que vem pelos sentidos.
...
Tudo o que a gente é mais tarde vem da infância.
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No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá
onde a criança diz: Eu escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz
de fazer nascimentos —
O verbo tem que pegar delírio.
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A mãe teve ternuras e pensou:
Será que os absurdos não são as maiores virtudes da poesia?
Será que os despropósitos não são mais carregados de poesia do que o bom senso?
(…)
Com certeza, a liberdade e a poesia a gente aprende com as crianças.
E ficou sendo.
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Manoel de Barros
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O estudo em geral, a busca da verdade e da beleza são domínios em que nos é consentido
ficar crianças toda a vida.
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Albert Einstein